quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

♪ de Janeiro à Janeiro...



  Hoje eu assisti "Uma prova de amor" e outra vez chorei o filme inteiro. Pensei muito em você e a saudade, como sempre acontece, apertou de novo aqui no peito. Sabe, doeu e eu nunca tive coragem de falar sobre isso. Eu queria ter feito tanta coisa, por você, por nós dois, e as vezes sinto que falhei. Se soubesse tudo o que sei hoje, te amaria melhor, maior e da forma como você merecia. 
  Vez ou outra eu sonho com você e quando acontece é tão nostálgico, que não tenho vontade de acordar tão breve. Assim como parece uma inverdade que você não esteja mais aqui. Fazem oito anos e sua voz ainda é nítida aos meus ouvidos, consigo lembrar da sua gargalhada, a forma como seus lábios se movimentavam ao sorrir, o jeito como olhava pra mim, a mania de segurar minha mão fazendo carinho no dedo mindinho... E isso faz uma falta danada sabe? Um vazio que ninguém consegue preencher, um buraco escuro no meu peito. 
  Vou até confessar que me apaixonei algumas vezes depois de você mas que nenhum outro soube ser merecedor desse sentimento, e chego até a pensar que é perda de tempo, desperdício, dolorido demais pra levar adiante... Dói porque eu sempre penso que já tive você, que possivelmente foi o único cara que me amou de verdade e infelizmente não está mais por perto. 
  Lamento porque um dia eu tive o melhor amor do mundo e perdi.
  Existem tantas coisas que eu queria ter dito mas não pude, e se adiantasse alguma coisa falar agora, eu diria que você foi cara mais incrível que já conheci, o mais engraçado, o mais forte, o mais amigo, o mais amado e o mais irreverente. Pode perguntar a qualquer um que te conheceu e vão logo suspirar "poxa, como aquele molequinho faz falta...", e logo relembrarão as histórias absurdamente malucas de um passado tão inesquecível. Foram tempos felizes e a gente não fazia a mínima ideia do quão pouco ele ia durar. 
  Mas a doença foi bem menos dolorosa encarada dessa forma né? 
  A nossa história foi bem diferente da dos casais convencionais, nossos encontros aconteciam na oncologia de um hospital, o cinema era a "sessão da tarde" compartilhada com os outros pacientes, ao lado de tubos e medicamentos e sondas,  tinham os beijos, as vezes interrompidos pelas enfermeiras ou qualquer outra visita que chegasse e no lugar da pipoca, tinha a comida sem sal que você tanto reclamava. Eu sei que não era o lugar mais romântico do mundo, mas isso não era incomodo. 
  Existe muita coisa que eu queria ter feito diferente. Se o tempo voltasse, teria dito mais vezes como você era apaixonante, como era lindo, mesmo quando a químio fazia seu cabelo cair e você detestava. Faria você saber como sua morte matou um pedacinho de mim. Não economizaria em dizer como eu te amei e como sua partida me machucou. Que eu queria ter sido mais forte em alguns momentos complicados e menos complexa em outros momentos bobos. Eu nem consigo me lembrar quais foram as últimas palavras que dissemos, você partiu e eu não pude dizer como me senti.
  Desde que você se foi, bastante coisa mudou. A vida se encarregou do destino daqueles que por aqui ficaram. Nossos irmãos se casaram, seu irmão agora tem um filho, os meus também, no total, são três sobrinhos que a gente poderia somar. Tem gente trabalhando, alguns estudando, pessoas que vão indo embora e a gente quase não os vê mais por ai.
  Mas a saudade, ah saudade! Continua aqui, vivendo no coração como uma ferida que nunca cicatriza por completo. Como dizem alguns, saudade é o amor que fica e quando é forte, resiste ao tempo, ao esquecimento...  Essa saudade eu guardei com as lembranças, as cartas que me escreveu, as fotografias... Eu as deixo existir na bagagem do tempo, Janeiro a Janeiro. E vez ou outra, quando a saudade incomoda demais, desembrulho tudo e revivo aquele passado, te sinto perto de mim, deixo algumas lágrimas rolarem e espero um dia, em algum lugar, te ver mais uma vez.